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Uma Poética de Estruturas Fluidas


por Tatiana Ferraz


Publicado no catálogo da exposição individual no Espaço Virgílio, São Paulo SP, 2002.




No âmbito da contemporaneidade do universo das artes visuais, a pintura aparece como o grande desafio lingüístico na sua eterna busca de uma ação surpreendente e inovadora. Manoel Veiga é exemplo de um percurso dessa incessante pesquisa poética da condensação de um mundo adensado que permanece intrigante.

Desenvolvendo uma pintura particular há mais de sete anos, o artista chegou a uma investigação pictórica própria. Em sua última série, realizada a partir de 2001, a ação das pinceladas é mais liberta e, ao mesmo tempo, mais afirmativa, revelando um estado de plena consciência da matéria, deixando que a poética flua e conquiste uma suavidade antes velada.

Seus pensamentos e manifestações advindos da experiência primeira da engenharia e, principalmente, dos estudos sobre a física quântica se presentificaram nas telas como corpos em ação continua de integração e desintegração. Um movimento que remete a ação temporalizada da natureza, próxima às estruturas dinâmicas e a sistemas aleatórios potencializados.

Se no começo da carreira a fatura seguia um adensamento de camadas num todo pictórico recolhido, hoje Manoel chega a uma etapa mais decisiva com poucas pinceladas e camadas mais diluídas, dosada por uma ousadia de quem tem domínio sobre a matéria, seja na ocupação da tela e dos espaços entre as manchas, ou nos encontros das pinceladas e dos gestos que se dissolvem num momento de grande integração.

As telas aumentaram, ganhando intervalos na construção do espaço, proporcionando um respiro das manchas, num gesto essencialmente fluido. As cores já não se misturam por exaustiva sobreposição de camadas, como em séries anteriores, numa direção concentradora. Em lugar disso, o pintor prepara uma mistura prévia, a qual só se manifesta como tal na própria ação de pintar, revelando suas tonalidades ao se acomodar na tela. Uma surpresa da cor que se constrói no tempo.

A própria instabilidade das misturas tonais e das manchas, influência de suas leituras sobre teorias quânticas, como o princípio da incerteza, torna a pintura ao mesmo tempo um enigma e uma surpresa. Tudo isso velado por uma fina camada de branco, sutil construção que se contrapõe ao caráter emblemático da cor protagonista.















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